
A finitude humana é um estigma, que carregamos durante toda a passagem de nossa vida. Por mais que tentemos remover esse quelóide, a recidiva é questão de tempo. Principalmente, quando se vive num mundo estremamente veloz e materialista.
Alguns se afundam no trabalho, outros partem em busca de riquezas, alguns outros buscam o poder e tantos outros buscam a espiritualidade, como forma de transpor o medo do findar da existência, cada vez mais visível.
Todos os caminhos, se não passarem pelo equilíbrio, tendem a trazer consequências danosas à vida das pessoas. No entanto, um deles, deve ser visto com cuidado redobrado, sob o risco de se despencar no despenhadeiro do existir, antes do momento devido.
Refiro-me ao caminho que abre mão da realidade, como a melhor forma de escapismo: a busca pela espiritualidade a qualquer preço. Talvez pelo fato de privar a carne de todos os seus deleites, devidamente merecidos, como se a mortificação dessa, fosse a salvação da alma. Esquecendo-se de que carne e espírito são sagrados, na mesma proporção. E infinitamente belos.
Tais pessoas, ainda em vida, abandonam o corpo, para depositar o espírito nas mãos das mais esdrúxulas figuras e denominações: marqueteiros de auto ajuda, gurus, xamãs, homens santos, seitas exóticas, poderes sobrenaturais, etc, sem nenhuma reflexão. De modo que as superstições, capitaneadas pela fantasia, acabam levando muitos supostos “espiritualistas” à loucura. Destruindo o corpo e jogando a mente na mais completa insanidade.
A gente Ocidental, ao longo dos anos, elegeu a Índia como o altar da espiritualidade. Na imensa maioria das vezes, sem nada conhecer sobre a cultura do país, mas induzida pelos relatos de artistas e socialites, que vão e vêm sem nada conhecer de verdadeiro, a não ser os “spas” cinco estrelas.
Em Carma-Cola, a escritora indiana, Gita Mehta, fala sobre uma carta que recebeu de uma jovem encarcerada num hospício dos Estados Unidos. Reproduzo aqui, suas palavras:
“A autora (da carta) se descreve como tendo estado entre as centenas de milhares de ocidentais, que foram à Índia na crença de que encontrariam homens santos capazes de libertá-los do tédio e do desespero de um mundo cada vez mais materialista.
Logo após sua chegada, quando caminhava pela rua, a jovem encontrou um homem vestido com o manto de cor de açafrão da renúncia, que se ofereceu para ser seu mentor espiritual.
Encantada com o fato de que a iluminação já estava a seu alcance, tornou-se sua adepta, seguindo-o até uma caverna no alto do Himalaia, onde, lhe disseram, outros gurus espirituais estavam esperando para iniciá-la nos caminhos do misticismo oriental.
Então, sua iniciação começou.
Os gurus deram-lhe comida misturada com drogas. Quando ela ficou incapacitada, atacaram-na sexualmente.
Durante semanas, foi prisioneira sexual drogada de seus mestres, até que conseguiu escapar e encontrar o caminho de volta aos Estados Unidos – onde foi imediatamente hospitalizada como louca.
Agora, está no processo de obter sua libertação do hospital, capaz de rir de si mesma.
Finaliza dizendo:
- Porque depois de ler seu livro, me dei conta de que jamais deveria ter confiado em gurus que usam tênis Adidas”.
Nota: este texto é uma homenagem aos leitores de THANA/ MAHARASHTRA (ÍNDIA)
Beijos carinhosos.
Éricka
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